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15 - 06 -2019
No início de Junho de 2018, fixei a intenção de fomentar o campo artístico na região da Madeira.
Os meus objetivos foram estruturados de forma a criar uma plataforma de artistas, cujo trabalho consistia em propor e desenvolver os seus projetos artísticos na ilha da Madeira.
O presente projeto foi desenvolvido no âmbito do Mestrado Performing in Public Spaces, na Universidade Fontys (Tilburg, Holanda). Apesar das suas boas intenções a ambição de instituir tal plataforma sem quaisquer fundos ou apoios de outras instituições era algo ingénuo e deveras ambicioso. Contudo, este projeto - C-ARTE - foi o primeiro passo em direção a tais ideais.
Sendo um processo gradual que depende de muitos outros fatores para além das minhas propostas artísticas, posso afirmar que C-ARTE iniciou um trabalho de novas práticas artísticas em espaços públicos da Madeira bem como novas ligações entre artistas, associações e cidadãos.
Atualmente, consigo olhar para o meu ponto de partida e compreender o que ainda não tinha em conta. Quando iniciei esta pesquisa não estava consciente de alguns factores, tais como: a variedade de associações culturais e estabelecimentos artísticos na ilha, as suas políticas culturais e, o posicionamento dos residentes em relação às Artes na Madeira - especialmente a Arte contemporânea. Esse conhecimento foi adquirido e transformado.
Desde então, falei sobre a Arte na Madeira com programadores, agentes culturais, estudantes e seniores, agricultores e donos de galerias... Todos eles com diferentes perspectivas sobre o que é Arte e o que é a Madeira.
Independentemente, todos eles tinham o interesse em experienciar arte e partilhar algo com o outro. Durante uma conversa, a entrevistada definiu que 'Arte é partilhar' - e, desde então o foco do projeto foi na (re)criação de espaços para tal partilha e introdução da arte contemporânea.
Apesar de a plataforma não atingir os níveis inicialmente idealizados, a mesma ganhou valores significativos. Valores de colaboração, identificação cultural e expressão.
A concepção de tal pesquisa permitiu criar novas colaborações entre artistas e associações, terminando o ano com uma equipa (mais ou menos) fixa; Luís Daio (bailarino), Guilherme Duarte (Dj) e Viki Marikova (fotógrafa) foram os meus pilares. Todos provenientes de diferentes vertentes artísticas, concluindo numa fusão de práticas e trocas de metodologias e visões próprias no decorrer dos projetos.
Tornou-se evidente que a Madeira a está mudar a sua posição artística. Contudo, ainda possuí obstáculos relacionados ao envisionamento das Artes como serviço de turismo, entretenimento e propaganda comercial.
A urgência de um novo futuro no campo artístico é inevitável e cada vez mais próxima: a afirmação de uma voz própria que expressa a panóplia de artistas e locais na região.
C.ARTE foi então o projeto pioneiro que abriu horizontes para uma pesquisa sobre a relação entre espaços públicos e arte contemporânea na ilha da Madeira.
Os seus resultados alcançaram metas inicialmente estabelecidas e, por outro lado, provocaram muitas mais questões e novas oportunidades para exploração futura no campo artístico da região.
Gostaria de tirar este último parágrafo para agradecer aos que me acompanharam durante este projeto, especialmente a minha tutora Heleen, a equipa artística, Associação Olho.Te e Associação Império da Ilha, aos meus colegas de Mestrado e aos meus pais.
Estou expectante em dar continuidade à minha prática artística através de valores de colaboração e conexão com o(s) outro(s).
Afinal de contas, Arte é partilha.
25 - 04 -2019
Este texto foi inspirado na indiferença da Região Autónoma da Madeira para com a comemoração do 25 de Abril.
Após várias tentativas minhas de estabelecer projetos com entidades artísticas com propostas para a celebração do feriado, dediquei o meu trabalho à exposição desta situação através de uma crónica.
Esta crónica não é uma crítica, é um apelo à esperança de uma mudança na Madeira.
Épico 25
- Que dia é hoje?
- Quinta-feira.
- Não… A data…?
- Então, é 25. Não dá para esquecer quando é feriado!
- Ah pois… 25 de Abril. A revolução de 74. Graças ao povo portu…
- Olha, viste o Game of Thrones? O próximo episódio é a batalha entre os white walkers!
Na última batalha da série gastaram 11 milhões no orçamento. Acredita, o próximo episódio vai ser épico…
Épico… O épico tem prazo de validade curta. Parece que a modernidade não se encarregou de adicionar conservantes e E’s suficientes para o seu sustento.
Na madrugada de 25 de Abril de 1974 o Movimento das Forças armadas encarregou-se de ocupar os estúdios da Rádio Português para dar voz à democracia e direito à liberdade de expressão.
Tocaram-se melodias que ensurdeciam a ditadura. Militares com tanques marcharam pelas ruas até Lisboa - Salgueiro de Maia comandava. Os soldados colocavam cravos no cano das suas armas e os civis com respeito, colocavam-nas ao peito. Nem uma morte.
Morreu o ‘épico’ vagarosamente… Mas ninguém pede a autopsia.
Visto bem, talvez faltassem os dragões e personagens mais exuberantes para tornar a realidade mais emocionante. Quer dizer, nós somos épicos ao ponto de incendiar uma catedral com 850 anos sem quaisquer dragões. (Ou foi um dos pestinhas da família Daenerys? Felizmente não corremos esse risco em Portugal pois poucos querem este trono.)
Apesar de não ser a Khaleesi em pessoa, temos a jovem Greta Thunberg igualmente loira e de tranças que está constantemente a alertar políticos e cidadãos para as consequências climatéricas que nos esperam. Pedidos menosprezados a situações que se tornam irreversíveis pois está tudo focado no trono de ferro. Trono frio, duro, desconfortável (e que ao fim de algum tempo cheira mal) mas todos querem sentar o traseiro nele.
E então e os ciclones? A poluição oceânica? A perda de património cultural e desvalorização das artes? O aumento de depressões e distúrbios mentais em pequenos e graúdos como consequência do sistema de produção da era capitalista?
Onde está a voz dos cidadãos neste 25 de Abril? o que esperamos?
Ah, é verdade esperamos o tal ‘Johnny da salvação’. Tenho a certeza que se algum dia ele aparecer, estará um dos nossos senhores deputados para lhe dizer ‘Tá calado. Tu não sabes nada, John Snow!’
Que a sua vinda nos salve desta apatia e comodidade com as situações em que nos encontramos. Ó Portugal hoje és nevoeiro…
Viva o 25.